Amor por Políticos: Quando Defender se Torna Cegueira
Por que reconhecer erros em nossos líderes é fundamental para o fortalecimento da democracia.
Como alguém que já esteve filiado a um partido por 20 anos e viveu intensamente a devoção por política, falo com a autoridade de quem já enxergou seus líderes como figuras praticamente infalíveis. Eu, como muitos brasileiros, acreditava que o político que eu defendia estava sempre certo. Mesmo diante de críticas e evidências, minha tendência foi compreender e minimizar qualquer erro. A questão é que esse tipo de cegueira, que muitas vezes surge da paixão política, é um perigo não apenas para a democracia, mas para nós mesmos, que deixamos de ver o mundo de forma crítica e racional.
Ter opções políticas, militares por uma causa e defender um lado são ações saudáveis, e a democracia precisa desse engajamento. É natural que cada um tenha suas inclinações, e lute por aquilo em que acreditamos é uma das maiores expressões do exercício democrático. No entanto, quando essa defesa se transforma em uma devoção cega, em que não conseguimos considerar as falhas políticas que admiramos, a situação começa a ficar perigosa.
Eu vivi isso. Durante muito tempo, minha visão política foi limitada pela paixão que nutria por certas figuras. Não consigo enxergar o outro lado, tampouco considerar os erros e tropeços que eram evidentes para os críticos. É fácil cair nessa armadilha, porque a política é, muitas vezes, emocional. No entanto, ao longo do tempo, aprendi que esse tipo de postura é prejudicial.
A democracia nos dá a liberdade de apoiar quem quisermos, de militar por causas que sejam justas. Porém, o problema começa quando começamos a tentar impor nossa visão a outros de forma autoritária, ou quando nos recusamos a enxergar que o político que admiramos pode errar — e vai errar. Isso pode ser traumático, não só para quem defende, mas para a sociedade como um todo. O diálogo fica comprometido, e a política, que deveria ser o espaço de debate, se transforma em um campo de batalha emocional.
Reconhecer a falibilidade dos nossos líderes é um passo importante para amadurecer politicamente. Não se trata de abandonar nossos ideais, mas de entender que políticos são humanos, e humanos cometem erros. Quando aceitamos essa realidade, ficamos mais preparados para participar de debates de forma madura, defendendo nossos pontos de vista sem deixar de lado a crítica e o questionamento.
É saudável ter paixões e lutar por um projeto de país. Mas nunca podemos deixar que esse amor cego nos impeça de ver o que está errado. Precisamos cobrar de nossos representantes uma conduta correta, não porque os odiamos, mas porque queremos que cumpram suas promessas e governem para o bem comum. A democracia se fortalece quando nos deixa de ver nossos políticos como ídolos infalíveis e nos trata como eles realmente são: servidores públicos que devem ser responsabilizados por suas ações.