Disputa pela Câmara de SP: Herança de Milton Leite e Acordos Postos à Prova
Fragmentação das bancadas e articulações políticas podem surpreender na escolha do próximo presidente da Câmara Municipal.
A sucessão da presidência da Câmara Municipal de São Paulo em 2025 já é tema central nas articulações políticas da capital. Com o encerramento da longa trajetória de Milton Leite, figura que por anos centralizou a liderança da Casa e definindo os principais acordos políticos, as forças políticas internas se reorganizaram para definir o comando do Legislativo paulistano. O União Brasil, partido que Milton representa e que conquistou sete cadeiras nas eleições, alega ter um acordo com o prefeito Ricardo Nunes (MDB) para indicar o próximo presidente. Essa articulação coloca Ricardo Teixeira como o principal nome da disputa, reforçando a tentativa de continuidade do grupo que dominou a Casa nos últimos anos.
No entanto, a saída de Milton Leite da posição de protagonista abre espaço para incertezas. Mesmo com o peso do apoio do Executivo, a dinâmica da Câmara Municipal é notoriamente complexa. São 55 vereadores com diferentes interesses e estratégias, e a eleição para a presidência nem sempre segue o caminho traçado pelos acordos entre partidos ou com o prefeito. Na prática, há espaço para o surgimento de alianças inesperadas, e blocos de opositores ou independentes podem se transformar ou que pareciam ser uma disputa previsível em um desfecho inesperado.
Além disso, o contexto atual da composição das bancadas da Câmara reflete um equilíbrio que favorece negociações mais intensas. Com oito cadeiras, o PT liderou como a bancada maior, seguido de União Brasil, MDB e PL, cada um com sete cadeiras. O PSOL, junto com a REDE, soma seis cadeiras, formando outro bloco significativo. Partidos intermediários, como PP (4 cadeiras), PSD (3 cadeiras), Republicanos (2 cadeiras), PSB (2 cadeiras) e NOVO (1 cadeira), terão um papel estratégico, podendo inclinar o resultado para um lado ou outro dependendo das alianças firmadas.
A fragmentação das bancadas cria oportunidades para que a oposição ou mesmo blocos menores apresentem ou apoiem candidaturas alternativas. A oposição, composta principalmente por PT e PSOL-REDE, já reúne 15 cadeiras, e, se conseguir atrair partidos menores como PSB ou Republicanos, pode ampliar sua força para construir um cenário que desafie a hegemonia da União Brasil. Essa possibilidade de racha na base não seria algo inédito na história da Câmara Municipal, que já testemunhou rupturas de acordos previamente estabelecidos.
Nessa disputa, outros nomes começam a ganhar força como protagonistas potenciais. João Jorge, do MDB, atual vice-presidente da Câmara e um dos vereadores mais próximo do prefeito Ricardo Nunes, aparece como uma alternativa viável para o comando da Casa, capaz de agregar força dentro da base governista. Já Isac Félix, do PL, representa um movimento estratégico de seu partido, que pode decidir romper com o acordo para tentar protagonizar a eleição. Ambos representam possibilidades de desestabilização do plano inicial desenhado por Milton Leite e pela União Brasil.
Historicamente, a Câmara paulistana tem demonstrado ser um espaço de decisões imprevisíveis. O peso do Executivo é importante, mas, no fim, são os vereadores que votam, e os interesses coletivos ou individuais muitas vezes criam cenários inesperados. A ausência de Milton Leite, que ao longo de sua liderança consolidou sua influência como articulador e liderança incontestável, deixa uma lacuna que aumenta o espaço para disputas internas mais acirradas.
Por outro lado, a União Brasil ainda possui um trunfo forte com Ricardo Teixeira, cuja experiência e articulações políticas são reconhecidas entre os colegas. Sua candidatura é vista como uma tentativa de continuidade da gestão de Milton Leite, mantendo o equilíbrio entre governabilidade e protagonismo do partido. Porém, será necessário mais do que acordos previamente firmados para garantir a vitória. A sucessão dependerá de negociações intensas, e os resultados podem trazer surpresas caso blocos dissidentes ganhem força.
A sucessão da presidência da Câmara Municipal de São Paulo não é apenas uma questão de herança política ou de acordos partidários. É um reflexo da complexidade da articulação política em um espaço plural e disputado, onde a capacidade de construir alianças e dialogar com diferentes grupos será determinante. O estágio ainda está aberto, e a próxima liderança da Casa será, acima de tudo, resultado de um processo político que combina experiência, negociação e força estratégica.